terça-feira, 18 de novembro de 2014

Vistos (não revistos) Gold

Onze detidos no caso dos “Vistos Gold”. De entre os detidos destacam-se, o diretor nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), Manuel Palos, e o presidente do Instituto dos Registos e do Notariado, António Figueiredo. O que levará alguém, com uma boa posição social e profissional, a cometer este tipo de crimes? Isto na hipótese de os terem cometido, nada, por enquanto, está provado.

Tanto um cargo como o outro são de nomeação politica. Manuel Palos foi nomeado, em 2005, por António Costa, quando era ministro da Administração Interna de um governo socialista. António Figueiredo foi nomeado em 2007 por Alberto Costa quando este era ministro da Justiça, também num governo socialista. Não se põe em causa se foram nomeados por um governo de direita ou esquerda, o que me inquieta é saber se estes cargos devem ser ocupados por nomeação ou de progressão na carreira.

Se estes dois senhores, em vez de ocuparem estes cargos por nomeação, os ocupassem por progressão na carreira, estariam nesta altura a ser acusados pelos suposto crimes? Estará alguém, que chega ao topo da carreira, disposto a por todo o seu esforço em causa por um favor concedido, um suborno, ou por outra situação duvidosa? Estando num cargo de topo por nomeação ou por progressão na carreira, terá uma pessoa as mesma atitudes? O facto de ter atingido o topo da carreira por mérito profissional terá algum tipo de influência nas suas decisões?

Não sou, na generalidade, a favor de cargos por nomeação, mesmo sabendo que ainda há pessoas sérias em alguns desses cargos. Todos sabemos para que servem as nomeações! … Qualquer um que ocupe um cargo por nomeação sabe que a qualquer altura pode deixar de o ocupar. Uns aceitam este facto com naturalidade e tentam desempenhar com o maior profissionalismo e seriedade o cargo, outros, pelo facto de ser temporário, tentam, durante esse tempo, tirar proveito de tudo e todos. É constante o relato, na comunicação social, de casos de corrupção entre cargos de chefia nas instituições ligadas ao Estado.

Nos últimos tempos tem vindo a público várias situações de crimes financeiros, corrupção, branqueamento de capitais, tráfico de influência e peculato, praticados por figuras públicas ou por pessoas nomeadas por figuras públicas. Se analisarmos os casos mais mediáticos, verificamos que o sector bancário e o meio político são a maior fonte criadora destes crimes.

Desde deputados e ex-deputados da Assembleia da Republica, autarcas, diretores de serviços públicos, administradores de grandes empresas com interesses em decisões politicas, banqueiros, etc, etc … a rede de interesses e corrupção é enorme. Mais uma vez, basta estar atento ao que é relatado na comunicação social.

Poucos são os que acabam por ser condenados. Por acusações mal fundadas ou advogados de defesa malabaristas, ávidos de fama, capazes de contornar a Lei e de dilatar decisões judiciais, os criminosos acabam, na sua maioria, por ficar impunes pelos crimes cometidos.



“ A corrupção das pessoas quase sempre começa com a corrupção dos seus princípios.” Montesquieu 

terça-feira, 28 de outubro de 2014

As vindimas

                                      
Época de vindimas. Uma azáfama tremenda! Após um árduo ano de trabalho, chega o momento de recolher da videira as preciosas uvas que, depois de esmagadas, farão um dos produtos que mais caracteriza a região e, ao mesmo tempo, muito apreciado em Portugal e além fonteiras, o vinho.
As semanas anteriores à colheita das uvas são de preparativos. Começa-se por lavar as vasilhas de transporte, as cubas e os lagares. É tempo também de contratar (rogar) o pessoal para a colheita. É necessário ter uma boa equipa de trabalho para aproveitar o bom tempo. As uvas devem ser colhidas, de preferência, com o tempo seco, e em Setembro começam as primeiras chuvas.
Num meio rural, onde predominam as pequenas explorações, a mão-de-obra é, normalmente, familiar, ajudando-se uns aos outros para assim reduzir as despesas. Nas quintas de maior dimensão, com explorações de vários hectares, a mão-de-obra é contratada, o que leva a procurar, até mesmo a disputar entre as quintas, os melhores trabalhadores entre a população existente. Por vezes é necessário recorrer às aldeias vizinhas para se garantir a mão-de-obra necessária.

A vindima de hoje já não é a mesma de outros tempos. Ainda me lembro da personagem do “despejador”. Este não era mais, como o nome indica, do que a pessoa que despejava os baldes dos restantes trabalhadores. Quando a pessoa que vindimava enchia o balde que trazia, gritava “DESPEJADOOOOOR”, e este corria para despejar o balde e assim não se perder tempo.
Lembro, também, como se transportavam as uvas da vinha para o lagar. Com carroças de tração animal, burro ou junta de bois, as uvas eram transportadas em dornas de madeira que haviam sido previamente embuchadas em água para que não vertessem. Na vinha, as uvas eram despejadas dos baldes para as gamelas de madeira, que depois eram transportadas à cabeça pelas mulheres até à dorna que se encontrava na carroça.

Depois da vindima feita, à noite, enquanto as mulheres faziam o jantar, era o momento de os homens entrarem no lagar e começar a pisar as uvas com os pés descalços. Este era um trabalho moroso, pois as uvas tinham de ser completamente esmagadas, o que levava o seu tempo. Para passar o tempo enquanto se pisava, contavam-se anedotas, faziam-se jogos, ou falava-se da vida. Recordo o jogo do malhal. Este consistia em andar ao ombro com uma prancha de madeira bastante pesada, ao mesmo tempo que se jogava ao “Juiz”. Este jogo era composto por uma lengalenga, “Na rua do Porto matou-se um gato, quem há-de dar conta dele é o Sr. Bilharquito …” Quem perdia o jogo tinha de pegar na prancha de madeira. Assim, a prancha ia passando de ombro em ombro. Jogava-se também ao 27. O objectivo era começar uma contagem do zero até ao vinte e sete, cada homem podia usar o número dois ou o três, o primeiro a jogar, como se começava do zero, dizia ou dois ou três, o seguinte somava ao valor dito pelo anterior mais dois ou três, e assim sucessivamente, o que ultrapassa-se o número vinte e sete, perdia e já não jogava no próximo jogo. O jogo terminava quando já só estavam dois em jogo e um deles passava o número e perdia.

Após a pisa e esmagamento das uvas, durante os dias seguintes, normalmente três a quatro dias, os homens voltavam ao lagar para mergulhar o vinho, isto era feito duas vezes ao dia. Como nos dias seguintes as uvas começavam a fermentação alcoólica, transformando os açúcares em álcool, as cascas das uvas vinham à superfície e o líquido ficava por baixo destas. Mergulhar o vinho não era mais que fazer com que as Cascas das uvas fossem mergulhadas na parte liquida que se encontrava por baixo. Dizia-se que quanto mais se mergulhasse o vinho, mais cor ele teria, daí alguns dizerem que iam dar cor ao vinho.

Ao fim deste processo, o sumo da uva, já transformado em álcool, era retirado do lagar e metido nos túneis de madeira, onde ficaria vários meses num novo processo de fermentação (fermentação maloláctica). Dizia-se que o vinho estava na mãe, enquanto não fosse trasfegado e retirada a borra.
Em todos estes processos, o agricultor, não fazia analises ao vinho. Vivia-se um pouco da sorte. Nalguns anos o vinho azedava e lá se ia o trabalho de um ano inteiro. Quando as coisas corriam bem, na maioria das vezes era isso que acontecia, os agricultores, em conversa na taberna, falavam dos seus vinhos para os amigos. Para se provar a qualidade, faziam-se umas visitas pelas adegas de cada um para se verificar a qualidade dos vinhos. Está visto que no final da visita vínica a alegria era muita entre os participantes. Nesta época, dava-se mais importância à quantidade produzida do que à qualidade. Dizia-se que determinada pessoa teve “x” almudes de vinho a mais que o ano anterior ou que o vizinho do lado.

O vinho foi sempre um produto muito importante na economia nacional. Durante o Estado Novo ficou celebre a frase: “Beber vinho é dar de comer a um milhão de portugueses”. Cada um de nós pode interpretar esta frase à sua maneira, mas, naquela época, ela queria dizer que o vinho era muito importante na sociedade, pois dava trabalho, sustentava famílias, era um bem muito importante na vida económica e social do país. Quanto mais se consumisse mais se teria de produzir e assim mais famílias teriam trabalho.

Ao escrever este texto são tantas as recordações de momentos e de pessoas, algumas já falecidas, que recordo com tanto carinho. Pessoas que toda a vida viveram na terra e da terra, o seu único sustento era o que a terra lhes dava, quer fosse em géneros ou em dinheiro, fruto do seu trabalho. Pessoas humildes, sempre prontas a ajudar o próximo, que mais não ambicionavam do que viver o dia-a-dia com saúde e trabalho. No inverno, quando chovia muito, não havia trabalho nos campos, os dias eram passados em casa, na taberna a conversar com os amigos ou então a fazer alguma tarefa que pudesse ser feita debaixo de áreas cobertas, como rachar lenha, ou, para aqueles que sabiam outras artes, fazer peças de artesanato.

Hoje, os tempos são outros, as vindimas são feitas com métodos mais modernos, rápidos e eficazes. Deixou de se explorar a quantidade em detrimento da qualidade. O mercado assim o exige. Surgiram grandes casas agrícolas com adegas bem equipadas, com vinhas plantadas ordenadamente, com boa exposição solar, vinhas estas com castas seleccionadas para que o vinho seja de boa qualidade.


Actualmente, as vindimas, são feitas com métodos mais modernos, mais rápidos e mais higiénicos. Com isto, ganhou-se qualidade e tempo... perdeu-se o ambiente festivo e humano que as caracterizava. 

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O Orçamento de Estado para 2015

Ainda que seja apenas uma proposta de Orçamento de Estado, o que foi proposto, em pouco será mudado, isto porque, sendo o governo de maioria na Assembleia da Republica, só não será aprovado se assim não o quiserem.
Um orçamento, seja ele de que espécie for, é sempre um manual de boas intenções. Espero que este consiga passar das intenções à prática.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

De volta

Depois de um período de pausa, não na escrita, mas sim na publicação da escrita, estou de volta para mais uns pensamentos banais.

Até já!


segunda-feira, 26 de maio de 2014

Eleições europeias 2014

Mais uma vez, após umas eleições, os políticos portugueses manipulam opiniões, estatísticas e dados, conforme lhes dá mais jeito.

António José Seguro começa por dizer que o PS teve uma grande vitória e que o atual governo chegou ao fim - (estas palavras do líder do PS podem ser lidas no site do partido). Analisando os resultados do PS, verifica-se que teve, ainda que provisoriamente, 31,45% dos 33,90% de votantes, ou seja num universo de 9.680.111 de inscritos, o PS teve aproximadamente 1.032.000 votos. Em 2009, o PS, tinha tido 26,58% dos 36,77% de votantes, ou seja, aproximadamente 946.500 votos, o que dá um aumento de 85.500 votos.
Pergunto: António  José Seguro quer eleições antecipadas e pensa ser primeiro ministro com 31,45% dos votos? - Acredito que Seguro não será candidato a primeiro ministro, a liderança do partido deve mudar antes disso.

A coligação PPD/PSD.CDS-PP obteve 27,71% dos 33,90% de votantes, ou seja, aproximadamente, 909.000 votos. Em 2009 tinha tido 31,71% dos 36,77% de votantes o que perfez, aproximadamente 1.129.000 votos, originando uma diminuição de 220.000 votos. Não se podem cantar vitórias ...

O Bloco de Esquerda (BE), pela voz de Catarina Martins, diz ter sido uma vitória da esquerda, não assumindo, como já nos habituou, as derrotas que tem sofrido nos últimos três atos eleitorais. Estas palavras fazem-me lembrar aquela história da corrida no deserto entre o elefante e da formiga, em que a formiga, a determinada altura, diz para o elefante, “Ó elefante, olha para trás e vê a poeira que nós fazemos” – coitada da formiga, se não fosse o elefante não havia poeira nenhuma. Assim está o BE, realmente a esquerda fez poeira mas se dependesse do BE a poeira não era nenhuma. Catarina Martins com o seu discurso populista, repetitivo, cansativo e teatral, não fosse ela também atriz, ainda não se apercebeu que está a perder eleitorado e, ou muda de discurso, ou vai ter de voltar a ser atriz, correndo, mesmo assim, o risco de não ter plateia nos espetáculos. O BE com 4,56% de votos, o que representa, aproximadamente, 149.500 votos, tendo em 2009 obtido 10,73% o que representou 382.000 votos, sofreu uma diminuição de 232.500 votos. Uma grande derrota, a maior de entre todos os partidos candidatos. Perdeu mais de metade do eleitorado.

O PCP-PEV, obteve 12,68% dos votos o que lhes deu 416.147 votos. Comparando com 2009 onde obteve 10,66%, representando, aproximadamente, 379.500 de votos, o partido aumentou 36.600 votos. Pode-se dizer que foi um dos partidos vencedores nestas eleições.

A grande surpresa nestas eleições, Marinho Pinto, candidato do MPT, foi ter sido eleito deputado europeu. Com 7,15% dos votos, representando 234.522 votos, o MPT, ou melhor, Marinho Pinto, porque sem ele o partido continuaria a não ter expressão politica, torna-se no quarto mais votado. Em 2009 o MPT tinha tido 0,66% o que representou 23.500 votos. Estamos perante um aumento de, aproximadamente, 211.000 votos. Grande vitória de Marinho Pinto. Vamos ver se não lhe acontece como aconteceu a Manuel Alegre quando foi candidato independente à Presidência da Republica e obteve um excelente resultado e nas eleições seguintes, para o mesmo cargo, foi um fracasso.

O âmbito geral, todos os partidos saíram derrotados, pelo facto de não terem conseguido diminuir a abstenção mas sim aumentá-la. Em 2004 a abstenção foi de, aproximadamente, 61%, em 2009 de 63% e agora 66%. O que fizeram os políticos para combater esta evolução? Que valores têm umas eleições onde apenas um terço dos eleitores votam? Que legitimidade têm os eleitos?

É necessário meditar sobre o fenómeno da abstenção. Podem, os responsáveis políticos, justificar a abstenção com o calor no verão, com o frio no inverno, com as férias, com o descontentamento geral, etc

Com 9.680.111 pessoas habilitadas e inscritas para votar, irem às urnas apenas 3.281.761 é preocupante, muito preocupante. São eleitos deputados que representam apenas a vontade de 33.9% dos eleitores portugueses. 

Na minha opinião, a abstenção aumenta pelo descrédito dos políticos. A falta de verdade, de palavra, de projetos, o compadrio e a corrupção que se verifica em Portugal, são alguns dos fatores que levam as pessoas a não acreditarem na política e nos políticos. O que deveria ser uma atividade nobre e digna, é hoje vista como um clã onde, mesmo de partidos diferentes, todos se orientam com consentimento uns dos outros, aquilo a que o povo chama de tacho. É necessário que os políticos mostrem aos portugueses que estar na politica não é pela dependência do  cargo mas pelo prestar de um serviço publico ao país. É necessário acabar com as nomeações de amigos e filhos de amigos para cargos pagos com o dinheiro do povo. É necessário acabar com mordomias que o país não pode suportar. É necessário acabar com salários milionários nas empresas públicas. É necessário reduzir o número de deputados na Assembleia da Republica, mesmo não sendo significativo, mostra que estão dispostos a mudar. É necessários que os líderes políticos não tenham um discurso quando são governo e outro quando são oposição, tem de haver mais coerência. Tem de se julgar judicialmente os políticos que cometem crimes e aqueles que, não os cometendo, têm conhecimento deles e nada fazer.

A impunidade, nos crimes de colarinho branco, em Portugal, é revoltante e o povo não fica alheio a isso.


Não é minha intenção, nem o reconheço, dizer que não há políticos sérios e dignos do cargo que ocupam. Certamente os haverá nos vários quadrantes políticos. Talvez sejam poucos …

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Salgueiro Maia

Quarenta anos passaram desde a célebre madrugada de 25 de abril de 1974. Salgueiro Maia, um dos heróis de abril (para mim o principal), hoje quase esquecido, não fosse o município de Santarém lhe ter erguido uma estátua, as gerações do pós 25 de abril nem saberiam quem ele foi.
O golpe, para derrubar o regime, para muitos dos envolvidos, era mais um entre muitos que haviam falhado. Salgueiro Maia seria “carne para canhão”. Possivelmente, alguns dos que hoje reivindicam falar nas cerimónias na Assembleia de Republica, não acreditavam no sucesso do golpe.
Esses, para bem do país, poderiam ter feito como o Almirante Cândido dos Reis em 1910, quando pensou que o golpe, para derrubar a monarquia, tinha falhado, suicidou-se. 

A determinação e coragem de Salgueiro Maia estão patentes nas palavras que proferiu, naquela madrugada, para os subalternos e que sito: “Meus senhores, como sabem, há diversas modalidades de Estado. Os sociais, os corporativos e estado a que chegamos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegamos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto.”
Daquilo que li sobre Salgueiro Maia, fiquei com a imagem de um homem determinado, teimoso, vertical, humano, honesto, duro e incapaz de tirar benefício pessoal daquilo que fazia.
É sua a frase: “O compromisso para fazer o 25 de abril, que assumi perante os meus homens, foi que daí não resultaria poder pessoal. Portanto, o 25 de abril também não iria fazer para os militares ficarem no poder. E eu em especial.”
Nos meses que se seguiram ao golpe, recusou ser comandante da Escola prática de Cavalaria, integrar o concelho da revolução, ser adido militar numa embaixada e governador civil em Santarém.
Um dos seus camaradas, Tavares de Almeida, que o acompanhou em quase todos os movimentos na madrugada de 25 de abril de 74, relata o seguinte: “Maia é incansável, não come, não bebe e está vinte e quatro horas sem parar um minuto sequer. Verdadeira máquina de guerra, preparado para toda e qualquer circunstância, assume permanentemente um papel de líder, mas sem que, para tal, alguma vez adopte uma postura arrogante ou individualista.”

Relatos de camaradas seus, dizem que, quer em Moçambique quer na Guiné, ao serviço das tropas portuguesas, desempenhou sempre os cargos que ocupou com valentia e determinação, mesmo já por fim, quando já punha em causa os objectivos da guerra, não deixou de desempenhar as funções que lhe foram atribuídas.

Passou a ser uma pessoa incómoda para muitos, sendo inclusive apelidado de arrogante e vaidoso. Recusava constantemente dar entrevistas, dizia que não as dava porque tudo o que dissesse seria considerado afronta. Aos poucos foi sendo posto à margem dos cargos militares o que lhe proporcionava muitos tempos livres. Foi nessa época que concluiu duas licenciaturas, uma em Ciências Politicas e Sociais e outra em Ciências Antropológicas e Etnológicas. Já com as duas licenciaturas concluídas, é destacado para Santarém, não para a sua Escola Prática mas para o presidio militar, onde presou serviço. Anos mais tarde, disse sobre esta passagem: “Continuei a cumprir pena sem saber porque fui condenado.”

Foi com o General Ramalho Eanes, como Presidente da Republica, que Salgueiro Maia voltou a ser tratado com a dignidade que merecia. A condecoração com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade foi o início de um novo ciclo. Após este momento, foi frequentar o curso Geral de Comando e Estado-Maior no Instituto de Altos Estudos Militares. Veio, depois, a chefiar a secção de logística da escola Prática de Cavalaria.
Em 1989 descobre que tem um cancro nos intestinos, convive com a doença durante alguns anos e, enquanto pôde, escondeu a doença à família. “Homens grandes como Salgueiro Maia deviam morrer não de um cancro qualquer, mas de pé, fulminados por um raio.” Escreveu Fernando Assis Pacheco, jornalista na época.
Faleceu a 4 de abril de 1992, nessa altura era Tenente-Coronel.

A História de Portugal é rica em personagens corajosas, que se bateram por valores e princípios, como foram D. Afonso Henriques, D. Nuno Alvares Pereira, Infante D. Henrique, Luís de Camões, Sidónio Pais, entre outros. Salgueiro Maia está, sem dúvida, ao nível de qualquer um deles.
Fontes: Wikipedia e Duas Faces da QuidNovi- Edições e Conteúdos, S.A.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Por um sentimento

Há pequenos gestos que são reveladores de muito daquilo que não se consegue dizer. As palavras, entaladas pela razão, são reveladoras dos sentimentos, e o silêncio, ainda que ensurdecedor, deixa-nos num misto de culpa e ansiedade. Pensamos, ou fazem-nos pensar, que somos aquilo que realmente não somos. Andamos como que numa levitação originada por um ilusão banal. Afinal quem somos? … Quem nos procura? ...

Do amargo do sentimento, retiramos o que de “melhor” se pode tirar, a SAUDADE!

“O instante doado pela vida que já é passado, a existência em movimento e ela imutável...verdade bela e dolorosa...saudade é muito além de expressão, da palavra pobre diante da grandiosidade do sentimento.” CFLC 2010

A saudade torna-nos seus servos sem que para isso dessemos autorização. Vivemos curvados à sua força e grandiosidade… sangramos nos sentimentos como se tivéssemos sido trespassados por uma lança, a ausência …


Não devemos viver submissos ao capricho de um sentimento mundano que nos corrói e nós atrofia … a reposição, substituição até, do sentimento pela causa, poderá ser a solução ou a forma de nos libertarmos das suas garras felinas …

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Fins de semana à tarde

Num destes sábados, à tarde, resolvi não fazer nada e sentar-me em frente à televisão para ver o que elas tinham para me oferecer. De zapping em zapping, ia sempre dar ao mesmo, os três canais de sinal aberto estavam em sintonia. Todos passavam programas muito semelhantes com apresentadores, na minha opinião, um pouco “apimbalhados” e que passavam o tempo a pedir para as pessoas ligarem para um tal numero (706 qualquer coisa) que, ao que parece, anda a ser uma boa fonte de receita para as televisões. Anunciam, que a pessoa que for sorteada será contemplada com uns milhares de euros.
Pelo que percebi, estes programas têm dois momentos. Um em que um artista canta e outro em que um apresentador pede, ou melhor, implora para que liguem para o número de telefone. Estes dois momentos vão alternando ao longo do programa e assim se passa uma tarde. (Não a minha porque ao fim de meia hora estava farto do programa e mudei para um canal informativo). Num dos canais, o apresentador, fazia o pedido para ligarem de uma forma tão sofredora e apelativa, que me pareceu estar, o trabalho dele, dependente do número de telefonemas que conseguisse nessa tarde.
Fiquei tão preocupado com a programação das televisões que, no dia seguinte, domingo à tarde, por curiosidade liguei a televisão e fui ver o que estava a dar. Apenas tinha mudado o cenário (agora ao ar livre), o género era o mesmo. Um cantor logo seguido dos apresentadores a pedirem, para as pessoas ligarem.
Não consegui contar a quantidade de vezes que ouvi os apresentadores dizerem “ligue para o numero ….., ligue agora”, “não deixe fugir esta oportunidade”,…. Passaram o programa, pelo menos enquanto eu estive a ver, a dizer a mesma coisa.
Dei comigo a pensar no ponto a que chegou a programação das televisões em Portugal. Que pensará o Júlio Isidro ou o Fialho Gouveia (ainda que noutro mundo) sobre a programação atual das televisões portuguesas que emitem em sinal aberto? Não querendo ser saudosista, recordo os programas das tardes de sábado e domingo de alguns anos atrás, com os apresentadores que referi e outros.
Será, este tipo de programação, o reflexo da cultura atual do nosso país?
Se assim é, regredimos na cultura?
Ou sempre fomos assim, tivemos foi, no passado, programas que estavam desenquadrados com a cultura de então?

Reconheço, também, que poderei eu estar errado! 

quarta-feira, 19 de março de 2014

DIA DO PAI

O PaiTerra de semente inculta e bravia, 
terra onde não há esteiros ou caminhos, 
sob o sol minha vida se alonga e estremece. 

Pai, nada podem teus olhos doces, 
como nada puderam as estrelas 
que me abrasam os olhos e as faces. 

Escureceu-me a vista o mal de amor 
e na doce fonte do meu sonho 
outra fonte tremida se reflecte. 

Depois... Pergunta a Deus porque me deram 
o que me deram e porque depois 
conheci a solidão do céu e da terra. 

Olha, minha juventude foi um puro 
botão que ficou por rebentar e perde 
a sua doçura de seiva e de sangue. 

O sol que cai e cai eternamente 
cansou-se de a beijar... E o outono. 
Pai, nada podem teus olhos doces. 

Escutarei de noite as tuas palavras: 
... menino, meu menino... 

E na noite imensa 
com as feridas de ambos seguirei. 

Pablo Neruda, in "Crepusculário" 
Tradução de Rui Lage

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Fernando Tordo emigrou para o Brasil

Fernando Tordo emigrou para o Brasil. Cresci a ouvir as músicas dele e de outros cantores da sua geração. Independentemente de ideologias politicas, sempre senti uma grande admiração por toda essa geração de cantores. Poderia aqui enumerar um sem fim de cantores portugueses que marcaram a minha adolescência, como Paulo de Carvalho, Paco Bandeira, José Afonso (já falecido), Carlos do Carmo, José Cid, Carlos Mendes, António Calvário, Tony de Matos (já falecido), etc, etc …
Custa-me compreender como é que uma pessoa, aos 65 anos, resolve abandonar o país e emigrar. Não estou a ver alguém com essa idade pegar na mala e emigrar sem destino certo, sem saber o que o espera. Possivelmente, terá propostas de trabalho do outro lado do oceano. Estou certo que sim.
O filho, João Tordo, escreveu no seu blog que o pai recebe uma pensão de pouco mais de 200,00 euros. Fiquei inquieto a pensar o porquê de uma pensão tão baixa. Realmente é uma pensão muito baixa para alguém que trabalhou toda a vida. Por outro lado, sei que as reformas são, em geral, baseadas nos descontos efectuados ao longo da vida. Assim sendo, presumo que o Fernando Tordo terá feito descontos muito baixos. Das duas uma, ou nunca fez descontos, o que me custa a crer, ou fez descontos tendo por base um salário muito baixo. Não seria o primeiro, como empresário, a fazer descontos pelo mínimo aceitável pela segurança social.
Não quero condenar a pessoa em causa, apenas quero compreender o porquê de uma reforma tão baixa e da sua saída de Portugal.
Terá ele contribuído para a segurança Social como trabalhador independente e terá declarado um rendimento baixo para que os descontos fossem também baixos?
É certo que ninguém tem nada a ver com a vida do Senhor, mas perturba-me ver alguém tão querido pelos portugueses sair desta maneira de Portugal e proferir as palavras que proferiu na sua despedida.

Espero que as hipóteses que levantei para justificar a baixa reforma estejam erradas. A serem verdade, também ele teria contribuído para, de forma fraudulenta, o estado a que chagamos em Portugal. Não quero acreditar nesta versão.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Os quadros de Miró

Então o Estado português não pode vender o pouco que resta com valor da despesa mais desastrosa do século? (não lhe chamo investimento, investimento é outra coisa )


Não se esqueçam que a nacionalização do banco BPN já custou aos portugueses  1,7 mil milhões de euros. Poderá já ter custado mais, pois a noticia é de julho de 2013. 

O governo socialista nacionalizou o banco invocando o efeito de contágio caso este falisse. Até hoje não vi um único estudo que quantificassem esse contágio pelo que tenho as minhas dúvidas quanto à certeza de que a nacionalização foi a melhor opção. E depois, quando vem a público o nome das pessoas envolvidas e interessadas na gestão do banco, as minha dúvidas aumentam, tornando-se em certezas. O banco deveria ter falido. 
Com o custo da nacionalização, mais as surpresas financeiras e económicas que o Estado teve até ao momento, segundo o referido jornal, o valor ultrapassa o valor acima referido.
No meio de todo o lixo encontrado nos investimentos do BPN, estavam os quadros de Miró, avaliados em alguns milhões de euros. O Estado português, e bem, resolveu leva-los a leilão para assim amortizar a despesa da nacionalização.
Agora vêm os deputados socialistas, responsáveis pela nacionalização do banco, dizer que os quadros não podem ser vendidos.

Certamente querem os quadros nos seus gabinetes.


segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

o meu livro

Cada livro tem sua história,
a que o autor criou,
a de quem o comprou,
a de quem o leu,
e porventura a de quem não leu
…terá ouvido falar.

Já li livros que não esqueço,
alguns, gravados na memória,  
cada qual com sua história.

Textos são armas de arremesso
Gritos de dor e de saudade
Lembranças que não esqueço
Memórias para a eternidade.

Este que te ofereço
Será o selo, autenticação,

Admiração e apreço.

Carlos Pereira