segunda-feira, 26 de maio de 2014

Eleições europeias 2014

Mais uma vez, após umas eleições, os políticos portugueses manipulam opiniões, estatísticas e dados, conforme lhes dá mais jeito.

António José Seguro começa por dizer que o PS teve uma grande vitória e que o atual governo chegou ao fim - (estas palavras do líder do PS podem ser lidas no site do partido). Analisando os resultados do PS, verifica-se que teve, ainda que provisoriamente, 31,45% dos 33,90% de votantes, ou seja num universo de 9.680.111 de inscritos, o PS teve aproximadamente 1.032.000 votos. Em 2009, o PS, tinha tido 26,58% dos 36,77% de votantes, ou seja, aproximadamente 946.500 votos, o que dá um aumento de 85.500 votos.
Pergunto: António  José Seguro quer eleições antecipadas e pensa ser primeiro ministro com 31,45% dos votos? - Acredito que Seguro não será candidato a primeiro ministro, a liderança do partido deve mudar antes disso.

A coligação PPD/PSD.CDS-PP obteve 27,71% dos 33,90% de votantes, ou seja, aproximadamente, 909.000 votos. Em 2009 tinha tido 31,71% dos 36,77% de votantes o que perfez, aproximadamente 1.129.000 votos, originando uma diminuição de 220.000 votos. Não se podem cantar vitórias ...

O Bloco de Esquerda (BE), pela voz de Catarina Martins, diz ter sido uma vitória da esquerda, não assumindo, como já nos habituou, as derrotas que tem sofrido nos últimos três atos eleitorais. Estas palavras fazem-me lembrar aquela história da corrida no deserto entre o elefante e da formiga, em que a formiga, a determinada altura, diz para o elefante, “Ó elefante, olha para trás e vê a poeira que nós fazemos” – coitada da formiga, se não fosse o elefante não havia poeira nenhuma. Assim está o BE, realmente a esquerda fez poeira mas se dependesse do BE a poeira não era nenhuma. Catarina Martins com o seu discurso populista, repetitivo, cansativo e teatral, não fosse ela também atriz, ainda não se apercebeu que está a perder eleitorado e, ou muda de discurso, ou vai ter de voltar a ser atriz, correndo, mesmo assim, o risco de não ter plateia nos espetáculos. O BE com 4,56% de votos, o que representa, aproximadamente, 149.500 votos, tendo em 2009 obtido 10,73% o que representou 382.000 votos, sofreu uma diminuição de 232.500 votos. Uma grande derrota, a maior de entre todos os partidos candidatos. Perdeu mais de metade do eleitorado.

O PCP-PEV, obteve 12,68% dos votos o que lhes deu 416.147 votos. Comparando com 2009 onde obteve 10,66%, representando, aproximadamente, 379.500 de votos, o partido aumentou 36.600 votos. Pode-se dizer que foi um dos partidos vencedores nestas eleições.

A grande surpresa nestas eleições, Marinho Pinto, candidato do MPT, foi ter sido eleito deputado europeu. Com 7,15% dos votos, representando 234.522 votos, o MPT, ou melhor, Marinho Pinto, porque sem ele o partido continuaria a não ter expressão politica, torna-se no quarto mais votado. Em 2009 o MPT tinha tido 0,66% o que representou 23.500 votos. Estamos perante um aumento de, aproximadamente, 211.000 votos. Grande vitória de Marinho Pinto. Vamos ver se não lhe acontece como aconteceu a Manuel Alegre quando foi candidato independente à Presidência da Republica e obteve um excelente resultado e nas eleições seguintes, para o mesmo cargo, foi um fracasso.

O âmbito geral, todos os partidos saíram derrotados, pelo facto de não terem conseguido diminuir a abstenção mas sim aumentá-la. Em 2004 a abstenção foi de, aproximadamente, 61%, em 2009 de 63% e agora 66%. O que fizeram os políticos para combater esta evolução? Que valores têm umas eleições onde apenas um terço dos eleitores votam? Que legitimidade têm os eleitos?

É necessário meditar sobre o fenómeno da abstenção. Podem, os responsáveis políticos, justificar a abstenção com o calor no verão, com o frio no inverno, com as férias, com o descontentamento geral, etc

Com 9.680.111 pessoas habilitadas e inscritas para votar, irem às urnas apenas 3.281.761 é preocupante, muito preocupante. São eleitos deputados que representam apenas a vontade de 33.9% dos eleitores portugueses. 

Na minha opinião, a abstenção aumenta pelo descrédito dos políticos. A falta de verdade, de palavra, de projetos, o compadrio e a corrupção que se verifica em Portugal, são alguns dos fatores que levam as pessoas a não acreditarem na política e nos políticos. O que deveria ser uma atividade nobre e digna, é hoje vista como um clã onde, mesmo de partidos diferentes, todos se orientam com consentimento uns dos outros, aquilo a que o povo chama de tacho. É necessário que os políticos mostrem aos portugueses que estar na politica não é pela dependência do  cargo mas pelo prestar de um serviço publico ao país. É necessário acabar com as nomeações de amigos e filhos de amigos para cargos pagos com o dinheiro do povo. É necessário acabar com mordomias que o país não pode suportar. É necessário acabar com salários milionários nas empresas públicas. É necessário reduzir o número de deputados na Assembleia da Republica, mesmo não sendo significativo, mostra que estão dispostos a mudar. É necessários que os líderes políticos não tenham um discurso quando são governo e outro quando são oposição, tem de haver mais coerência. Tem de se julgar judicialmente os políticos que cometem crimes e aqueles que, não os cometendo, têm conhecimento deles e nada fazer.

A impunidade, nos crimes de colarinho branco, em Portugal, é revoltante e o povo não fica alheio a isso.


Não é minha intenção, nem o reconheço, dizer que não há políticos sérios e dignos do cargo que ocupam. Certamente os haverá nos vários quadrantes políticos. Talvez sejam poucos …

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