Não há muito tempo, um dos objetivos de qualquer família era a compra ou construção de uma casa. A sedentarização provocada pelo “emprego para a vida” levou a que as pessoas comprassem casa num determinado local. Após a compra da casa, os objetivos profissionais de uma carreira ascendente, ficavam pelo caminho quando, para isso, era necessário mudar de residência. Muitas vezes, propostas de trabalho eram recusadas devido ao facto de se ter adquirido casa em determinado local o que dificultava a mobilidade das pessoas.
A compra de casa, na maioria das vezes, dependente de um financiamento bancário, passou a ser uma “prisão” e um entrave às aspirações profissionais. Para facilitar a aquisição de casa e a estagnação na progressão da carreira, estavam os bancos a vender dinheiro barato. Durante anos e anos, algumas instituições bancarias, venderam sonhos envenenados a preços baixos. A falta de formação e de conhecimentos básicos em matéria financeira levou muita gente ao deslumbre de ter casa própria. Funcionários bancários, instruídos e “formatados” para venderem créditos ao primeiro que aparecesse, pois, da concessão de créditos, dependiam objetivos profissionais, impostos pela hierarquia, que era necessário atingir dentro da instituição bancária. Assim foi durante aproximadamente duas décadas (1980 e 1990).
A realidade mudou, já não há o “sonho” de ter casa própria. Muitas famílias que tinham optado por essa via, hoje, privados de trabalho, deixaram de pagar as prestações do crédito à habitação, optando, atualmente, pelo arrendamento.
A história, hoje, conta-se de outra forma. Os empregos já não são para a vida, a crise económica em que caímos, provocada por uma crise de valores (contas de outro rosário), originaram o encerramento de varias empresas, mandado para o desemprego milhares de pessoas, algumas das quais, com anos e anos no mesmo trabalho.
A precariedade no emprego e os juros altos cobrados pelos bancos, agora mais cautelosos com a concessão de créditos, leva a que a compra de casa já não seja um objetivo. Do objetivo de compra de casa, passou-se ao arrendamento temporário. As pessoas, hoje, estão mais disponíveis para mudar de residência, já não têm o compromisso das prestações do empréstimo para cumprir. A renda de casa é de fácil desembaraço, deixamos de pagar numa localidade e vamos começar a pagar numa outra, onde nos seja possível arranjar trabalho. O maior problema agora é ter trabalho.
Não sei se um dia voltaremos a viver como vivemos antes desta crise. Não sei se voltará a haver empregos para vida. Não sei se voltaremos a ter o sonho de comprar uma casa. Não sei se os nossos filhos terão trabalho, mesmo que precário. Não sei se cá estaremos todos para ver. Não sei se … Não sei!
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