Com a notícia da morte de Mário
Soares, lembrei que, em tempos, comprei dois livros escritos por Maria João
Avillez sobre esta figura incontornável da democracia portuguesa. Estes livros,
tal como a autora diz, registam uma longa conversa, varias vezes interrompida,
ao longo de mais de um ano.
Fui procura-los na estante e lá estavam.
Tenho por norma escrever na primeira página dos livros, a data em que os
comprei e a data em que os li. Estes dois livros foram comprados em Maio de
1996 e lidos nesse mês e no seguinte. Outro hábito que tenho é tomar notas daquilo
que acho mais interessante nos livros que leio. Fui encontrar, nestes dois
livros, algumas anotações que fiz a quando da sua leitura. Uma das mais interessantes
que encontrei foi uma resposta de Mário Soares à pergunta – …Porque tinha
tolerado a “esquerdismo” num dos seus governos… a esta pergunta Mário Soares
respondeu: “É sempre fácil fazer criticas
a posteriori. Mas as realidades mudam em cada momento, e as ideias, como as
próprias palavras, evoluem. Em política, às vezes, importa saber esperar para
que as coisas amadureçam e se nos imponham como uma evidência. Ter razão antes
do tempo certo é perigoso em política, como na vida. Por isso, é sempre errado
avaliar os tempos ou as situações passadas com a óptica ou as opiniões de hoje.”
Numa resposta a uma pergunta
sobre as suas vitórias e as suas derrotas, Soares responde: “A diferença que há entre um homem político e
um moralista é que, face a uma Revolução – era disso que se tratava -, o homem
que se move por meras atitudes morais demite-se, á primeira contrariedade, ao
fim de quinze dias. Assim que depara com uma dificuldade maior, demite-se! O autêntico
homem político vai fazendo a sua caminhada, sem renegar as suas convicções e
sem jamais transigir no essencial…”